Após um ano em temporada, Núcleo Ás de Paus reestreia o espetáculo Donantônia
“Donantônia” é o terceiro espetáculo do Núcleo Ás de Paus, trabalho que vem sendo desenvolvido...
Dois irmãos que passaram a juventude no campo se reencontram na cidade em um momento decisivo: o da notícia da morte da mãe. Uma história que pode ser banal. Mas também trágica… e cotidiana. Em uma viagem familiar rumo ao passado e em direção às raízes, o Agon Teatro prossegue em temporada com seu espetáculo de estreia, “Ovo”, de 9 a 19 de abril (quinta a domingo), na Usina Cultural.
O trabalho tem dramaturgia e direção de Renato Forin Jr., que também está em cena ao lado da atriz Danieli Pereira. O grupo teve orientação cênica de Marcio Abreu (da Companhia Brasileira de Teatro, de Curitiba).
Ovo remete liricamente ao universo rural, ambientando o espetáculo num antigo galinheiro onde os irmãos, na infância, trabalhavam e brincavam. édipo e Electra são personagens evocados nesse drama familiar brasileiro. Em sua dramaturgia, Renato Forin desconstrói os mitos originais da tragédia grega e elabora uma fábula inédita.
Os sentimentos e tabus familiares são trabalhados de forma poética e metafórica. Electra parte do sítio para encontrar édipo na cidade e dar a notícia do falecimento da genitora. Neste instante de desespero, afloram-se as pendências de um passado permeado por dor e ciúmes – circunstâncias que levaram édipo ao exílio.
Aos poucos, os espectadores desvendam a trama, oferecida em fragmentos e com idas e vindas temporais. Os personagens de “Ovo” aparecem revestidos de uma humanidade cotidiana, o que faz com que suas narrativas espelhem-se no drama pessoal de cada um na plateia.
Reflexões sobre o tempo
A história de Ovo intercala momentos narrativos que expõem os sentimentos entre os irmãos, suas relações paternais e a fragilidade dos afetos diante de circunstâncias extremas como a morte e a passagem do tempo, o desaparecimento de quem se ama e a ausência de respostas para quase tudo o que realmente importa. “é uma percepção apurada de que o tempo vai passando, vai varrendo as lembranças, as histórias e os próprios membros da família”, explica Renato Forin.
Ao mesmo tempo em que conserva uma essência lírica, a dramaturgia apresenta inovações formais que a enquadram no chamado drama contemporâneo. Em vários momentos, os atores parecem despertar da trama para refletir sobre a ilusão teatral.
A intenção é que a peça sensibilize os mais diversos públicos. “A montagem pode ser lida como uma história familiar, comum a todos nós, ou interpretada de forma mais técnica ou por um viés psicanalítico”, destaca Danieli Pereira. A proposta de fazer uma encenação em arena, para um público reduzido, facilita a proximidade com os espectadores.
Criado em Londrina há três anos como um grupo de pesquisa, o Agon Teatro investiga a encenação e a dramaturgia contemporânea. Sediado na Vila Usina Cultural, mantém uma rotina de ensaios e treinamentos baseados em linhas de força da tradição.