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Redação em quatro etapas

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quarta, 19 de abril de 2017
Categoria: noticia

Imagine ser convidado a escrever um artigo, uma reflexão, uma opinião sobre qualquer assunto…  A primeira dica é seguir o sábio conselho do escritor Douglas Adams, que vem impresso “em letras garrafais e amigáveis” na capa de seu Guia do Mochileiro das Galáxias: NÃO ENTRE EM PÂNICO.

Isso é muito importante porque, ficando calmos, vamos perceber que a escrita não depende só de uma ação – escrever –, mas sim de um processo que todos podemos desenvolver para dar conta do desafio.

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Primeira etapa

A primeira etapa do processo da escrita é muito simples. Trata-se de pensar e refletir a respeito do assunto sobre o qual vamos escrever; de pesquisar e explorar mais a fundo o tema em questão.

Como exemplo, vamos imaginar que nosso tema seja: TOMATE.  O que escrever a respeito? Não sendo especialista na área, o jeito é pesquisar, explorar o assunto. Ao consultar o “doutor” Google, entre outras fontes dos tempos modernos, obtemos algumas informações, tais como:

•             O tomate é um fruto de formato arredondado e de cor vermelha, rico em licopeno – excelente agente antioxidante –,vitaminas A, B e C, e sais minerais como o fósforo, potássio, cálcio e magnésio. Esses nutrientes ajudam no desenvolvimento de dentes, músculos e ossos, e na proteção do sistema imunológico, entre muitos outros benefícios. O licopeno, que está associado à redução do risco de doença cardíaca e dos níveis de colesterol, possui propriedades anti-inflamatórias e ainda ajuda na prevenção de doenças relacionadas com a idade, como a degeneração macular. 

•             O tomate caracteriza-se por sua versatilidade, podendo ser usado em massas, saladas, sopas, guisados, refogados, entre outras composições, e por possuir poucas calorias. Um tomate de tamanho médio contém cerca de 24 calorias. Uma rodela fina de tomate tem em torno de três calorias. Dizem que o tomate deve ser consumido cozido para render o máximo de seu valor nutritivo. No caso do licopeno, isso é verdade, mas a vitamina C e as enzimas são absorvidas com mais facilidade quando o tomate é consumido cru.

•             O tomate recebe muito agrotóxico durante seu cultivo tradicional. Por isso, deve-se lavá-lo muito bem, retirar as partes de cima e de baixo, que acumulam mais agrotóxicos e também evitar consumi-lo verde. O melhor é optar por tomates bem maduros, nos quais a concentração de agrotóxicos já se diluiu um pouco. Recomenda-se também colocar o tomate em uma solução de 1 litro de água + 1 colher de sopa de bicarbonato, deixar de molho por meia hora e depois lavar novamente em água corrente.

•             O tomate já esteve em destaque nos noticiários, especialmente em 2013, e não por bons motivos. Naquele ano, foi o “puxador” da inflação, com uma alta de 72,79% acumulada em apenas quatro meses. Os produtores atribuíram o aumento à falta de chuvas ou ao excesso delas. O preço alto do tomate rendeu muitas piadas.

 

Segunda etapa

Com os dados em mãos, podemos passar para a segunda etapa do processo da escrita, que é organizar as ideias em um projeto de texto. Essa organização começa pela definição de um título, que vai nos indicar o melhor “recorte”, a melhor abordagem para aquele assunto. 

Em nosso exemplo, soubemos vários fatos interessantes a respeito do tomate. Podemos até escrever sobre todos eles, mas teremos de escolher antes por qual ângulo vamos tratar o assunto. Do ponto de vista da nutrição? A partir da versatilidade do tomate na gastronomia? De uma perspectiva mais informativa? Eu optaria por esta última, com um toque de humor.

Para definir esse recorte, vamos “bolar” um título. Começamos “pinçando”, de todas as informações obtidas sobre o tomate, palavras/frases/conceitos que mais têm a ver com a perspectiva escolhida. Eis aí minha lista:

Tomate é um fruto – Vermelho – Redondo – Versátil – Sopas – Guisados – Massas – Saladas – Alimento “magro” – Agrotóxico – “Puxador” da inflação

Agora, com essas palavras e outras, que acabam vindo por associação durante o processo, vamos tentar “montar”, como em um puzzle, um quebra-cabeça, títulos que levem em conta o recorte definido. No caso, a ideia de “informar com leveza e bom humor”. O resultado:

•             Redondo, vermelho e versátil

•             Tomate: não pode faltar

•             Redondo, nutritivo e magro

•             É um pecado não comer deste fruto

•             Tomate, o pequeno notável

Escolheria o último porque ficou do jeito que eu queria, leve e com um toque de humor, devido à associação com a cantora e atriz luso-brasileira Carmen Miranda (1909-1955), de renome internacional, que era conhecida como “a pequena notável”.

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A partir do título escolhido, vamos elencar, em um roteiro, as ideias que comporão o texto sobre o tomate. O que vou pôr no começo, no meio e no fim do texto?

Roteiro

Título: Tomate, o pequeno notável

Começo

(apresentação do tema) O tomate e sua “notável” contribuição para nossa alimentação…

(contextualização) Sempre foi e continua sendo apreciado pela versatilidade / é recomendado tanto pela ciência quanto pela gastronomia…

(meu ponto de vista) Nutritivo e saboroso, vale a pena incluí-lo nas refeições…

Meio

(argumentos, informações, dados que justifiquem, apoiem meu ponto de vista) Quais são os nutrientes do tomate e para que servem; é versátil na culinária; tem poucas calorias; é saudável tanto cru quanto cozido; é preciso ter cuidado com os agrotóxicos…

Fim

(conclusão/dedução natural) Tão notável, por tantos aspectos, quando encarece vira um problema nacional, como no “surto” de inflação em 2013, do qual foi o principal “vilão”…

Quando fazemos um roteiro, uma prévia do que vamos escrever, fica muito mais fácil desenvolver o texto. Sabemos como começar e aonde queremos chegar. Temos a perspectiva, o foco e, por isso, dificilmente nos perderemos pelo caminho.

Terceira etapa

Com o roteiro, chegamos à terceira e principal etapa do processo: a escrita propriamente dita. Nesta fase, o que mais ajuda é contar com um bom “repertório” de recursos linguísticos, entre eles, um vocabulário variado. Para isso, é fundamental que nos exercitemos em uma prática muito prazerosa: a leitura. Por meio da leitura habitual, absorvemos conhecimento de forma natural, sem esforço, em diversas áreas. Junte-se a isso o “costume” de pensar e refletir sobre os fatos da vida, de exercitar a visão crítica sobre as questões cotidianas, que a leitura também estimula, e teremos excelente matéria-prima para usar na escrita.

Assim, seguindo a orientação do roteiro para escrever o texto, temos:

Tomate, o pequeno notável

(Começo) Pequeno, arredondado e de cor vermelha, o tomate é um fruto muito sedutor. Cativa os nutricionistas pelo bem que faz à saúde. Estimula a criatividade dos “chefs” por sua inigualável versatilidade. Vai bem em molhos, saladas, sopas, refogados… De fato, um pequeno notável que não podemos deixar de incluir nas refeições. O que seria do macarrão das “mammas” sem ele?

(Meio) Essa performance, no entanto, só é possível porque o tomate é muito bem dotado. Entre seus muitos nutrientes, conta com o licopeno, considerado um excelente antioxidante e que é associado à redução do risco de doença cardíaca e dos níveis de colesterol, e à prevenção de doenças relacionadas com a idade. Ainda dispõe das vitaminas A, B e C e de sais minerais como o fósforo, potássio, cálcio e magnésio, úteis no desenvolvimento de dentes, músculos e ossos, e na proteção do sistema imunológico.

Não bastasse tudo isso, o tomate inclui-se na categoria de alimentos “magros”. Um fruto de tamanho médio tem em torno de 24 calorias. Nas saladas, portanto, ou como aperitivo, o tomate vai bem e não compromete a silhueta. Além disso, ao ser consumido cru, facilita a absorção da vitamina C e das enzimas presentes no alimento. Quando cozido, no entanto, libera o máximo do valor nutritivo do licopeno.

Mas seja cru ou cozido, é preciso tomar cuidado com os agrotóxicos, muito usados no cultivo tradicional do fruto. Por isso, recomenda-se lavá-lo muito bem, de preferência em uma solução de água (um litro) com bicarbonato (uma colher de sopa), retirar as pontas, que acumulam mais agrotóxicos, e consumi-lo bem maduro, quando o defensivo agrícola já está mais diluído no fruto.

(Fim) Por ser tão presente, em tantos preparos culinários, quando o tempo não ajuda e a colheita é pouca, o tomate “puxa” a inflação lá para cima. Foi o que ocorreu em 2013, quando seu preço aumentou vertiginosamente e foi motivo de notícias e piadas, como aquela que circulou pela internet, criando um novo programa do governo: “Meu tomate, minha vida”. Mesmo caro, portanto, o fato é que não dá para passar sem ele. Melhor é aceitar essa nutritiva realidade e incluir, sempre que possível, esse pequeno notável em nossas refeições.

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Quarta etapa

Na última etapa do processo da escrita, o objetivo é revisar, fazer os ajustes necessários para deixar o texto “redondo”. Trata-se de uma “olhada” final para identificar erros (grafia, acentuação, concordância, pontuação etc.), imprecisões (às vezes, a palavra escolhida não é a mais apropriada naquele contexto ou para a expressão daquela ideia), repetições e outros problemas. Tudo isso para conseguir um texto mais claro, objetivo, bonito…

Em nosso exemplo, fiz as seguintes mudanças:

(Começo) … O que seria do macarrão das “mammas” sem ele? – Achei que ficou um pouco forçado. Por isso, mudei para: O que seria do macarrão de domingo sem ele?

(Meio) Essa performance, no entanto, só é possível porque o tomate é muito bem dotado. – Percebi que o bem dotado com aspas acentuaria, daria destaque ao humor, à ambiguidade do conceito: Essa performance, no entanto, só é possível porque o tomate é muito “bem dotado”.

(Meio) Quando cozido, no entanto, libera o máximo do valor nutritivo do licopeno. – Aqui, vi que havia a repetição de um conectivo – no entanto. Quando fui procurar uma variação, percebi também que esse conectivo em particular não era o mais apropriado para aquele contexto.  Assim, mudei para: Quando cozido, por outro lado, libera o máximo do valor nutritivo do licopeno.

(Meio) Mas seja cru ou cozido, é preciso tomar cuidado com os agrotóxicos, muito usados no cultivo tradicional do fruto. – Aqui, identifiquei a falta da vírgula depois do “Mas”. Isso porque o “seja cru ou cozido” é uma intercalação explicativa e, portanto, deve estar entre vírgulas: Mas, seja cru ou cozido, é preciso tomar cuidado com os agrotóxicos, muito usados no cultivo tradicional do fruto.

(Meio) …Por isso, recomenda-se lavá-lo muito bem, de preferência em uma solução de água (um litro) com bicarbonato (uma colher de sopa), retirar as pontas, que acumulam mais agrotóxicos, e consumi-lo bem maduro, quando o defensivo agrícola já está mais diluído no fruto. – Aqui, verifiquei que ficaria melhor para a fluência da frase tirar as indicações dos parênteses e rearranjá-las. Também, como se trata de uma relação de procedimentos, seria melhor um ponto e vírgula antes de “retirar as pontas”. Além disso, há a repetição de uma palavra – agrotóxico – e a utilização de um seu sinônimo – defensivo agrícola – que ficou meio deslocado no contexto. Mudei para: Por isso, recomenda-se lavá-lo muito bem, de preferência em uma solução de um litro de água com uma colher de sopa de bicarbonato; retirar as pontas, que acumulam mais agentes tóxicos, e consumi-lo bem maduro, quando esses elementos estão mais diluídos no fruto.

(Fim) …Mesmo caro, portanto, o fato é que não dá para passar sem ele. Melhor é aceitar essa nutritiva realidade e incluir, sempre que possível, esse pequeno notável em nossas refeições. – Aqui, observei que o fim do texto ficou sem força, além de repetitivo em relação ao que foi escrito no primeiro parágrafo. Assim, ajustei para: O fato é que não passamos sem ele. Cheio de predicados, é um alimento não só notável como indispensável.

Depois da revisão, o texto ficou assim:

Tomate, o pequeno notável

Pequeno, arredondado e de cor vermelha, o tomate é um fruto muito sedutor. Cativa os nutricionistas pelo bem que faz à saúde. Estimula a criatividade dos “chefs” por sua inigualável versatilidade. Vai bem em molhos, saladas, sopas, refogados… De fato, um pequeno notável que não podemos deixar de incluir nas refeições. O que seria do macarrão de domingo sem ele?

Essa performance, no entanto, só é possível porque o tomate é muito “bem dotado”. Entre seus muitos nutrientes, conta com o licopeno, considerado um excelente antioxidante e que é associado à redução do risco de doença cardíaca e dos níveis de colesterol, e à prevenção de doenças relacionadas com a idade. Ainda dispõe das vitaminas A, B e C e de sais minerais como o fósforo, potássio, cálcio e magnésio, úteis no desenvolvimento de dentes, músculos e ossos, e na proteção do sistema imunológico.

Não bastasse tudo isso, o tomate inclui-se na categoria de alimentos “magros”. Um fruto de tamanho médio tem em torno de 24 calorias. Nas saladas, portanto, ou como aperitivo, o tomate vai bem e não compromete a silhueta. Além disso, ao ser consumido cru, facilita a absorção da vitamina C e das enzimas presentes no alimento. Quando cozido, por outro lado, libera o máximo do valor nutritivo do licopeno.

Mas, seja cru ou cozido, é preciso tomar cuidado com os agrotóxicos, muito usados no cultivo tradicional do fruto. Por isso, recomenda-se lavá-lo muito bem, de preferência em uma solução de um litro de água com uma colher de sopa de bicarbonato; retirar as pontas, que acumulam mais agentes tóxicos, e consumi-lo bem maduro, quando esses elementos estão mais diluídos no fruto.

Por ser tão presente, em tantos preparos culinários, quando o tempo não ajuda e a colheita é pouca, o tomate “puxa” a inflação lá para cima. Foi o que ocorreu em 2013, quando seu preço aumentou vertiginosamente e foi motivo de notícias e piadas, como aquela que circulou pela internet, criando um novo programa do governo: “Meu tomate, minha vida”. O fato é que não passamos sem ele. Cheio de predicados, é um alimento não só notável como indispensável.