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Os medos nossos de cada dia

Os medos nossos de cada dia

terça, 13 de outubro de 2015
Categoria: noticia

Desde pequena, como qualquer criança, era assolada por inúmeros medos, que se multiplicavam e se tornavam mais assustadores no silêncio da noite. Antes de me deitar, cumprindo o velho ritual, olhava debaixo da cama para checar a presença de um ser estranho. Eram muitos os “ladrões” que apavoravam e tiravam meu sono: os fantasmas; os monstros; os bandidos e assim por diante. Suas faces eram cruéis aos meus olhos, porque denunciavam perigo de invasão constante e sequestravam minha paz.

à medida que crescia e obtinha maior responsabilidade e compromisso com a vida, percebi que os medos, aprendidos a partir de minhas experiências de vida, assumiam outras dimensões, tornando-se mais complexos, tais como: o não saber expressar limites para obter respeito; a perda da juventude; o não ser aceita e daí por diante. Esses intermináveis “companheiros” me obrigaram a recuar muitas vezes e, paralisada, enxergava a mim mesma e aos outros sob uma camada de névoa. Mantinha-me em cativeiro, aprisionada por alguns velhos sentimentos e crenças negativas.  

Com o passar dos anos, no entanto, muitos desses “senhores feudais” foram enfrentados e percebi que possuíam barbas postiças e cajados de barro. Entendi também, depois de muito tempo de trabalho, devotado a me conhecer melhor, que eu mesma os cultivava e até com algum rigor.  Fiz descobertas preciosas e alguns dos grilhões se desprenderam, assim como outros estão por vir, e que venham! Isso faz parte da vida e proporciona um caminho para novas conquistas, pois ninguém se torna livre e resiliente enquanto estiver acorrentado às algemas que criou para si mesmo.

Aprendi que os medos são emoções que se revelam com maior intensidade diante de situações de perdas e perigos, reais ou imaginários, e apresentam-se de forma mais ou menos dramática para cada pessoa, de acordo com suas crenças de vida. São irracionais e, por isso, ao serem confrontados pela luz da razão, podem ser libertados, assim como um farol ilumina uma parte escura da mente, possibilitando importantes descobertas.

‘(medos) são irracionais e, por isso,
ao serem confrontados
pela luz da razão,
podem ser libertados,
assim como um farol ilumina
uma parte escura da mente,
possibilitando importantes
descobertas.’

Sempre há opções de enfrentamento de nossos medos. Contudo, ao temer a aproximação de algo que aparentemente ameaça nossa integridade, naturalmente tendemos à cegueira e reforçamos a crença da impossibilidade de resolver aquilo que se repete. Como alternativa, tornamo-nos experts em criar rotas de fuga, acreditando que o tamanho do monstro é descomunal demais para ser enfrentado. Assim, nos rendemos ou nos tornamos violentos, perseguindo pessoas que nos ameaçam de alguma forma e nelas enxergamos toda a fonte dos nossos temores. Dessa maneira, criamos culpados por nossas infelizes escolhas.

Nesse contexto, tenho preferido lidar com meus medos permitindo-me uma aproximação gradativa em relação àquilo que me amedronta, procurando descobrir se, ao experimentar tal situação, sinto-me ou não protegida. Refiro-me à percepção da situação e dos possíveis danos psicológicos ou ganhos que ela pode proporcionar. Assim, nem todo medo é danoso a longo prazo. Muito pelo contrário, quando enfrentado à luz do dia, oferece-nos pistas para visualizarmos o tamanho do seu poder e de sua capacidade de domínio. Dessa forma, podemos nos transformar de submetidos aos medos em senhores de escolhas mais positivas.

A partir dessa reflexão, convido você, caro leitor, a fazer a seguinte experiência: entrar em um velho e desabitado cômodo de sua “casa interna”. Ao abrir a porta, provavelmente sentirá fortes odores; uma combinação de ácaros e de poeira depositada nas cortinas e móveis entulhados. Tome coragem, abra a janela desse inóspito local e deixe uma fresta de luz entrar. Qual a sensação?  Se isso lhe causar algum alívio, você pode decidir seguir adiante, limpando o local, fazendo o ritual do bom descarte, enquanto se questiona: “Devo manter isso ou posso descartar? Como esse ambiente ficará sem esses objetos velhos?” Escolha olhar e descartar coisas. Isso pode lhe dar um trabalho danado, mas vai valer a pena. Os velhos temores estão por ali e só precisam ser libertados. 


MC Consalter – Psicóloga Organizacional e Coach
Certificada em coaching pelo ICI (2013) 

Acesse para saber mais:
http://mcconsalter.wordpress.com/