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´Questão de tempo` e o tempo que não volta mais

´Questão de tempo` e o tempo que não volta mais

segunda, 03 de agosto de 2015
Categoria: noticia

Assisti ao filme “Questão de tempo” ontem. Além de contar com uma trilha sonora sensível, no enredo há a possibilidade de, no mínimo, nos fazer parar e refletir um pouco.

      O protagonista, Tim, conta com seus 21 anos e sonha em encontrar uma namorada. Até que, um belo dia, seu pai o chama para ter uma conversa séria e lhe diz que os homens da família têm o poder de viajar no tempo. Basta que Tim vá até um local escuro (um cômodo ou um armário, por exemplo), cerre os punhos e pense no momento para o qual gostaria de voltar. Uma vez no passado, ele pode vivenciar novamente alguma situação e consertar o que deu errado.

      Fui acometida por uma crise de choro quando Tim perde seu pai e tem a oportunidade de “despedir-se”, pois não poderia mais voltar ao passado para estar com ele. Minha crise de choro foi óbvia: me dei conta de que o tempo não volta jamais, jamais, jamais. Não podemos nos despedir dos que já partiram, não podemos abraçá-los ou jogar uma partida de ping-pong pela última vez. 

      Quando a gente se dá conta – ao pendurar as roupas no varal ou simplesmente ao olhar de uma maneira diferente para o canto da parede em que os rastros dos raios do sol batem – de que não temos o poder de voltar no tempo, tudo ganha um sentido. Este momento, este minuto, o agora, tudo se torna valioso. Pronto, passou, já estamos em outro minuto, outro pequeno e insignificante instante de nossas vidas. Vale a pena? Valerá? Não sei.

      O filme acabou e eu fiquei me perguntando: Como eu posso viver esse momento? Como posso viver este momento estando verdadeiramente viva? Meu esforço está em viver verdadeiramente, mas o que é isso? Eu me questiono quase todos os dias.

      Na vida, corremos o risco de perder uma oportunidade justamente por ter olhado pro lado no momento em que alguém passava por nós. Na vida, a morte não é mais um risco. O passado existe, o presente é essa tentativa vã de capturar coisas impalpáveis com as mãos, e o futuro é sempre. “Até hoje sempre fui futuro”, li certa vez numa estação de metrô em Lisboa, e desde então carrego essa frase comigo. Acho que só pude entendê-la quando me dei conta de que o tempo não volta mais. Até hoje sempre fui algo que ainda não fui, que ainda não sou, porque estou sempre me tornando alguém. Estou sempre inacabada.

‘Até hoje sempre fui algo
que ainda não fui,
que ainda não sou,
porque estou sempre
me tornando alguém.
Estou sempre inacabada’.

      A morte nos assola, é o nosso destino, nosso juízo final, e enquanto ela não vem, estamos de passagem. O que fazer com o tempo que não pode voltar? Com os momentos que não podemos reviver? Com as questões que não podemos recapitular? Com as pessoas com as quais não podemos mais estar? Não há nada a fazer. Porque a vida é sempre um recomeço, é sempre futuro, uma vez que o presente é este instante breve que – veja, já se foi – ficou para trás. Sendo a vida um recomeço, que muitas vezes parece igual, temos de olhar os detalhes. Veja bem, naquela fresta há algo belo, naquele olhar há algo belo, naquele chuvisco há algo belo, naquela fatalidade há algo belo. Veja. Perceba. Esteja atento.

      Em “Questão de tempo”, Tim aprende uma lição: vive cada dia como se já tivesse voltado ao passado para consertar os momentos em que não viveu da maneira como gostaria, por exemplo, quando deixou de notar o sorriso sincero de alguém que passava por ele na rua, enquanto ele andava apressado. A lição do protagonista pode ser uma saída para a nossa realidade, uma vez que não há remédio para a vida, não existe o poder de voltar no tempo, de consertar as coisas, de fazer não chover no dia do casamento ou evitar derrubar ketchup na camisa branca antes de uma reunião. O único remédio para a vida é viver sem remédio. Cada um escolhe sua maneira, o seu possível. Somos futuros em potencial.