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Que nome dar ao cachorro? Uma história de Natal Que nome dar ao cachorro? Uma história de Natal

Que nome dar ao cachorro? Uma história de Natal

quinta, 24 de dezembro de 2015
Categoria: noticia

Véspera de Natal, nada para fazer. Mãe e irmã, primas e tias ocupadas com os quitutes na cozinha. O pai fora: “Alguém precisa trabalhar nesta família”. Ele, na rua, à toa.

Andando displicente pelo bairro sossegado, vê em um terreno baldio, onde entulho e sujeira jazem acumulados, um movimento rápido. Seriam orelhas? Agora, um rabo. Tudo pequeno, manchas, brilhos, como flashes no meio do lixo.

Fica de olho, atento. Logo aparece, corpo inteiro, um pequeno cãozinho. Tão fofo. Parece de brinquedo e também meio tonto, fuçando, fuçando. Aos poucos, aproxima-se do filhotinho, pois não quer assustá-lo. Quando percebe que o animal continua distraído, agarra-o com firmeza. Mas o cão não quer colo, nem carinho, só quer pular de volta para a segurança do chão áspero.

Com o cachorro saracoteando em seus braços, sai do terreno e toma rumo contrário ao da sua casa. Precisa pensar direitinho como convencer pai e mãe, que nem querem ouvir falar de cachorro, a ficar com o filhote.

Não dá sorte, logo encontra o velho Leocádio, que, alquebrado, passo curto, sai no portão exatamente naquele momento. “Oh, Marcos, que bom encontrar você, queria ir na venda, mas tou tão encalacrado. Pega o dinheiro” – e entrega a ele um punhado de notas amassadas – “e compra um leite e dois pãezinhos aqui pra mim”.

O menino, sem jeito, com o cachorro se debatendo no colo, não tem escolha e, ao pegar o dinheiro, o filhote desprende-se de seus braços, cai na calçada e sai correndo para o meio da rua.

Mas que danado, pensa Marcos, achando que esse termo – danado – até que daria um bom nome para o cachorro. Contudo, foi só o tempo de pensar nisso e logo vê um carro quase em cima do cãozinho. Joga o dinheiro para o alto e sai em defesa do pequeno. “Corre, corre”, grita para o cachorro. “Para, para”, grita para a motorista, que, distraída, com o celular na mão, só breca depois de um tempo. Sem danos, no entanto, pois o cãozinho já está do outro lado.

E corre e continua correndo em direção a uma pracinha mais à frente. Marcos atrás. Logo, o cachorrinho dá de encontro com um vira-lata enorme, mal encarado, que vigia, lambendo os beiços, um pedaço de osso mais do que triturado.

O danado do cachorrinho não é fácil mesmo e encara de igual para igual o grandalhão, latindo uma latido ardido. O outro, salivando, só espera a oportunidade de pegar o pequeno com uma só bocada.

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Marcos chega a tempo de evitar o desastre. Dá um chega para lá no cachorrão e quando vai pegar o corajoso cachorrinho do chão, pensando que corajoso seria um nome ainda melhor para ele, o filhote já está correndo de novo, agora em direção a uma construção. Sobe aqui, desce acolá, pula, salta, vai parar no parapeito de uma janela lá no alto.

Que atrevido é esse cachorro, pensa Marcos, praticando alpinismo para ir atrás dele e considerando que atrevido talvez fosse, enfim, o nome ideal. Contudo, quando chega ao peitoril da janela, onde o filhote deveria estar, vê, lá de cima, que o cachorrinho já está lá embaixo e que desata a correr de novo.

Ah, mas eu pego você, pensa Marcos, descendo apressado e correndo também. A rua, naquela altura, avizinha-se de um largo portão aberto. Dentro, um jardim de algumas árvores, poucas flores e um gramado não muito bem tratado. Atrás, um prédio imponente, de uns três andares, todo cinza, triste. O que seria?

Entrando pelo jardim, o filhote logo encontra um banco, entre outros, encostado à lateral da porta e, nele, sentada, tão triste quanto o prédio, uma menininha. Usa um singelo vestido e calça sapatos de lacinho, mas o que atrai o olhar de Marcos e lhe causa estranheza é que ela está careca.

Quando a menina vê o cãozinho, aquela densa tristeza que a envolve parece se diluir como mágica. Abre um enorme sorriso no rosto tristinho e abre também os braços, oferecendo o colo para o cachorrinho. Traidor, pensa Marcos, achando que esse seria o nome certo, afinal, pois o cachorrinho não se faz de rogado e pula, todo contente, para o colo da menininha. Ele a lambe e ela o afaga, parecendo que são amigos há séculos.

Marcos, que a tudo observa, escondido atrás de uma árvore, vai ficando mais chateado. Queria tanto um cachorro para ser seu amigo.

Enquanto rumina seu desgosto e imagina se há um jeito de pegar de volta o cachorrinho, ouve um grito, meio assustado, meio maravilhado. é a mãe da menininha que assim grita, saindo pela porta do hospital – agora Marcos percebe de que edifício se trata –, e vê a filha tão frágil e doentinha – agora Marcos também percebe isso – tendo nos braços um cachorro.

Decerto a mãe logo pensou em sujeira, bactérias e coisas assim, filosofa Marcos, acreditando que, no fim das contas, o cachorrinho seria banido, e isso é muito bom, já que voltaria para ele.

Não demora muito, no entanto, Marcos começa a duvidar de suas deduções, pois a menininha não desgarra do cachorro e, vendo a mãe empenhada em tirá-lo dela, chora copiosamente. O cachorro, por sua vez, uiva, acompanhando a garota. O fuzuê na porta do hospital acaba por chamar a atenção de enfermeiras, médicos, pacientes e visitas, que saem do prédio e se reúnem no local.

Conversa vai, conversa vem, muitas lágrimas, sorrisos e suspiros, Marcos escondido, só ouvindo. Falam em Natal, presente, milagre e, para maior espanto de Marcos, que o cachorro, na verdade, é uma cachorra. 

Tão felizes estão, menina e filhotinha, tão felizes ficam todos à volta, repara Marcos – pelo sorriso que a companhia do bichinho leva ao rosto da garota, pelo brilho que coloca em seus olhos – que a mãe, enfim serenada sobre os perigos que tal fato representa para a saúde da filha, sorri também e chora.

Marcos quase chora junto, mas, no caso dele, porque percebe que o cachorrinho que tanto queria para si já não lhe pertence.  Antes de dar meia-volta, muito triste por se ver sozinho de novo, escuta o grupo ao redor da menina confabulando sobre o nome que deveriam dar à cachorrinha. E logo surge, entre várias ideias, o nome perfeito, como assoprado por um anjo que por acaso ali estivesse passando.

Esse é um nome legal, pensa Marcos, um pouco mais encorajado a acreditar que a vida também vai lhe trazer uma boa surpresa, como fez com a garotinha. Ao sair rumo ao portão, vira-se uma última vez para ver a cachorrinha a quem haviam dado o doce nome de Esperança.

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