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Pesquisa analisa solo do Lago Igapó e relação com história de Londrina

Pesquisa analisa solo do Lago Igapó e relação com história de Londrina

quinta, 17 de outubro de 2019

Quem passa pelas vias entre os vários lagos Igapó, em Londrina, percebe a lenta e insistente formação de ilhas e o avanço de terra sobre os espelhos d’água, que ficam cada vez mais rasos. O professor André Celligoi (Departamento de Geociências) e sua ex-orientanda, Carolina Nunes França Acosta, publicaram em julho um artigo na revista Ciência Geográfica (Bauru), órgão oficial de divulgação da Associação dos Geógrafos Brasileiros, que analisou justamente este fenômeno dos lagos.

Parte da dissertação de Mestrado de Carolina, que a defendeu em 2015 dentro do Programa de Pós-graduação em Geografia da UEL, o artigo tem como título “Depósitos tecnogênicos e expansão do uso do solo na Bacia Hidrográfica do Ribeirão Cambé, Londrina – PR”. Depósitos tecnogênicos são quaisquer tipos de sedimentos gerados por alguma atividade humana, e o ribeirão Cambé é o que forma o lago Igapó, que na verdade são vários.

Carolina observou todos, mas coletou amostras de sedimentos em quatro deles – lembrando que a numeração é feita no sentido contrário ao curso d’água, ou seja, o lago Igapó 1 é o que tem a barragem. O Igapó 4, conhecido pela árvore cheia de garças (avenida Castelo Branco), é o que mais chamou a atenção. Ali, deságua no Cambé um afluente, o ribeirão Rubi, e o acúmulo de sedimentos durante anos transformou uma foz simples em um delta. E não é o único: outro foi formado no lago 2.

A amostragem identificou, nos lagos, uma variedade de sedimentos tecnogênicos, como areia de construção civil (quartzo), vidro, metal (ferro), plástico, madeira processada e carvão vegetal, além é claro, de material natural. A quantidade e disposição dos sedimentos em camadas de solo são capazes de dar pistas sobre a história da ocupação e do desenvolvimento daquela região da cidade. Uma camada com prevalência de material natural indica pouca atividade humana na área. Já uma camada com expressiva concentração de sedimentos tecnogênicos como os encontrados aponta para a época em que a região começou a receber habitantes, a erguer construções e gerar resíduos.

 

Pesquisa analisa solo do Lago Igapó e relação com história de Londrina

Professor André Celligoi: “A maior parte dos sedimentos tecnogênicos vai pelo sistema de esgotos diretamente até os rios” Foto: Agência UEL

Outra indicação dada pelos sedimentos diz respeito ao avanço das políticas públicas relativas à proteção do meio ambiente. Camadas de 20 ou 30 anos atrás demonstram a menor preocupação da construção civil com a geração de resíduos, diferente das mais recentes, notadamente com menos sedimentos tecnogênicos e mais material natural.

INTERVENÇÃO

O assoreamento também pode ocorrer naturalmente, como consequência de chuvas e enchentes, por exemplo. Mas no caso do Igapó, foi a expansão da ocupação humana que causou o fenômeno. Por isso, o professor Celligoi defende uma intervenção. Quem percebeu o assoreamento também deve ter notado que os lagos não contam com mata ciliar, há muitos anos. Muito pelo contrário. Na verdade, o professor afirma que, dada a condição atual, nem a recuperação de mata ciliar resolveria, porque a maior parte dos sedimentos tecnogênicos vai pelo sistema de esgotos diretamente até os rios.

O professor Celligoi lembra ainda que tais processos trazem consequência não só para o solo, mas também para a fauna e a flora da área. Um lago assoreado, com poucos centímetros de profundidade, não suporta muitas espécies de peixes. Consequentemente, as aves que se alimentam deles não têm como disputar com as que sobrevivem com uma dieta de moluscos. De outro lado, constata-se a teimosia da Natureza ao observar o rápido nascimento de plantas nas áreas assoreadas secas, ainda que cheias de sedimentos tecnogênicos. “As plantas são as primeiras a chegar”, anota o professor, que usa a citação do personagem de um filme (Ian Malcolm, em “Parque dos Dinossauros”, 1993) para ilustrar a ideia: “A vida encontra um meio”.

Fonte: Agência UEL