Parque temático do Pinóquio chega a Londrina
Inspirado na série Pinocchio and Friends, o parque é voltado para crianças entre 1 e...
Esses dias eu ia andando pela rua, bem devagar, enquanto tomava um sorvete. Enquanto caminhava, lembrei que eu e minha mãe costumávamos sair aos finais de semana pra dar uma volta de carro, e sempre parávamos numa sorveteria. Ali ficávamos um tempo, em silêncio, observando o movimento, olhando as árvores… vez ou outra eu tirava algumas fotos. Hoje (ainda bem), essas são as fotos que ainda tenho dela, de um tempo relativamente “recente”. Uma nostalgia misturada com tristeza se alojou no meu peito quando me lembrei disso. Pensei comigo o quanto dói a sacana da saudade e como é difícil ter alguém retirado do nosso convívio assim, de repente.
Exatamente quando pensava nisso, estava passando em frente a um prédio onde havia duas mulheres conversando – uma mais nova e outra mais velha, esta com seus quase 80 anos. Nossa, menina, que Deus conforte a família, né? Que coisa…., a mais velha dizia. A frase foi o suficiente pra entender que falavam sobre alguém que havia morrido recentemente.
Elas se despediram e a senhora veio caminhando atrás de mim. Como eu andava devagar, ela logo me alcançou. é… a vida é fogo, né?, me disse. Era exatamente o que eu estava pensando. Ela parecia ter escutado os meus pensamentos e apenas continuado a “reflexão” que eu havia iniciado.
Respondi, sem titubear, mas com a voz um pouco fraca: “Sim. A vida é fogo”.
Ela continuou: Hoje cedo morreu o meu vizinho. Nos conhecíamos desde os tempos de solteiro, e agora fiquei sabendo que o velório e enterro já aconteceram. A mulher dele não avisou quase ninguém… Não tive tempo de me despedir. E anteontem falei com ele no telefone… Hoje não está mais aqui. Essa vida, né?
Nunca respondi a alguém que eu acabara de conhecer com tamanha sinceridade. “é. Essa vida…”.
Ela virou a esquina e eu segui adiante. Eu, é óbvio, dei risada da ironia da vida. Ironia, sincronicidade, tudo. A vida é muito esperta. A frase que aquela mulher me disse ficou martelando na minha cabeça: “a vida é fogo”.
A vida não é fria, nem dura, muito menos estática. A vida é fogo. Porque “fogo” significa transformação. A vida é quente. A vida queima. A vida muda de cor. A vida transforma as coisas, recicla, renova, mata e faz nascer. A vida não é dura, nem fria: essas são características do que está morto. O sangue para de circular e depois de um tempo estamos frios, duros. Enquanto há vida, há calor. Enquanto há vida, há possibilidade de transformação.
“(…)A vida não é fria,
nem dura,
muito menos estática.
A vida é fogo.
Porque “fogo”
significa transformação.”
Cheguei em casa e tive vontade de acender uma vela. Só depois fui pensar na simbologia da vela também. Era a minha maneira de dizer que aceitava a vida como ela é. Que aceito as transformações, apesar disso não me deixar menos saudosa, menos nostálgica e menos triste. Aceitar as transformações não significa que eu não sofra. Por isso, chorei. Até que as lágrimas terminassem o que tinham que fazer: transformar. Quando me dei conta, estava cantarolando uma música. De novo me peguei sorrindo sozinha das transformações da vida. Dos ciclos. E, mesmo com alguma dificuldade, me alegrei. Por aceitar a dor. Viver a dor. A alegria só pode vir assim, quando sabe que há espaço suficiente para a tristeza, e vice-versa.
Não temos outra saída: cabe a nós vivenciar os ciclos, com os mais variados sentimentos que são despertados; com os olhos atentos para notar as transformações. Afinal, a vida é fogo.