Parque temático do Pinóquio chega a Londrina
Inspirado na série Pinocchio and Friends, o parque é voltado para crianças entre 1 e...
No meio das ocupações
cotidianas, fui tomada por um pensamento completamente avulso: a vida é agora. De súbito, meu
coração disparou, e o que era mesmice virou susto. Me espantei com este pensar.
A vida me espantou. Sigo, em meio ao espanto de notar um detalhe tão relevante.
Como a vida se mantém, nas miudezas, nos detalhes dos movimentos
gastrointestinais, tão bem compassados e geniais? Como é possível tudo
funcionar a favor de um ciclo? Cadeia alimentar, Darwin, Galileu? Como é
permitido ser tão grande e insignificante?
Ficamos tão absortos nas
‘coisas da vida’, nos celulares, enfim, que nos esquecemos de lembrar
desse grandiosíssimo detalhe. A vida é agora. Percebem? Tudo o que temos é este
instante. O ‘daqui a pouco’ eu não sei. O ‘amanhã’ muito
menos. A transitoriedade do tempo é justamente esta abertura, quando me lanço
ao momento seguinte. é como se me dobrasse para o tempo. Me estico até um
futuro próximo. Estamos sempre tentando fazer isso. E como é difícil não se
projetar.
Nos deram tarefa difícil
quando inventaram o tempo: não se afobar, viver o presente. Não ser ansioso,
mas planejar, sim, o futuro próximo. Dicotomia sacana. Quando me dei conta de
que a vida significa apenas o momento presente, confesso que também senti certa
alegria. Ao mesmo tempo, como nada é unilateral, senti meu peito se apertar,
como se o coração mal coubesse em mim: como viver tudo? Terei tempo? E o pior,
eu me perguntei: quanto tempo?
Não sei. Não sabemos.
Como lidar?
Sou cautelosa e vivo o
instante planejando as minhas ações futuras; ou sou impulsiva e aproveito tudo
o que o instante pode me dar? Eis a dúvida de uma vida. Oscilo entre os dois
extremos desde 1987.
Penso que é possível ser tudo. Dentro do limite
humano da ‘coisa’ que é o estar vivo.
Mistério e milagre: eis a vida. Tão óbvia, como
uma célula que se divide e tão inconformada, como a morte?
Como é possível algo nos dar potência e
incapacidade?
Pergunto à vida, todo santo dia – porque todo
dia é santo, na medida em que me tira da cama com um sol que eu presumi que
nascesse, e nasce – e ela me responde.
Sim, a vida me responde. E não é alucinação.
A vida me responde de diversas formas:
1) na árvore amarela que encontro todos os dias
no caminho para o trabalho;
2) no ipê roxo, que agora está florido, a duas
quadras do meu apartamento;
3) no cobrador do ônibus, que boceja de cinco
em cinco minutos às segundas;
4) no olhar da criança que corre atrás dos
pombos, assustando-os;
5) no canto alto do sabiá na janela da sala em
que trabalho, expressando resistência;
6) nas bobagens e no mar de insignificâncias
(como a poesia de Manoel de Barros e uma folha seca no chão – ou seriam a mesma
coisa?);
7) na esperança que brota do meu peito, por
vezes cansado;
8) na noite que só faz barulho de silêncio (que
é quando eu mais gosto de não pensar);
Hoje, entendo um pouco mais.
Sei que não adianta querer viver tudo pra ontem. Sei que não adianta fazer
planos muito distantes. A vida é isso: esse interjogo entre eu e o outro, entre
dentro e fora, espera e súplica, e tanto mais. Como nos disse Guimarães Rosa: “viver é etecetera”. Se me cabe um
neologismo, “eteceteremos”, pois.