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Ceasa Londrina: uma central de histórias

sexta, 24 de fevereiro de 2017

Com importante papel no abastecimento alimentar de Londrina e região, Ceasa também se destaca pelo lado humano

Como abastecer uma cidade do tamanho de Londrina, sua região metropolitana e a demanda de outros estados pelos produtos hortifrutigranjeiros, de maneira organizada e sistemática? Esta é uma pergunta que a Unidade de Londrina das Centrais de Abastecimento (Ceasa) do Paraná precisa encontrar a resposta todos os dias, desde as primeiras horas da manhã. O expediente começa religiosamente às 05h15, de segunda a sábado, e em três dias da semana (segunda, quarta e sexta), também há comercialização no período vespertino.

Instalada numa área de 10 hectares já nas proximidades de Ibiporã, a Ceasa de Londrina tem papel e posicionamento considerados estratégicos. “Nós recebemos produtores cujas propriedades estão localizadas num raio de 150km daqui, e esta é uma região cujo solo é um dos mais férteis do Brasil e cujo clima, temperado, nos favorece. Isso faz com que tenhamos uma grande produção e preços acessíveis. Este é um aspecto muito atrativo”, afirma o gerente da Ceasa de Londrina, Marcos Augusto Pereira. Com uma comercialização de mais de 150 mil toneladas de hortifrutigranjeiros por ano, a central londrinense está entre as 15 maiores centrais do país. No Paraná, só está atrás da de Curitiba, que hoje é uma das quatro maiores do Brasil. Destaca-se na comercialização de produtos como tomate, banana, batata, abacaxi, alface, entre outros.

Basicamente, as centrais de abastecimento funcionam como uma espécie de condomínio, cujo “síndico” é o poder público. Os “inquilinos” são os atacadistas, chamados de boxistas, e que podem vender qualquer tipo de alimento, não necessariamente plantados na região, e os produtores rurais que vendem somente o que eles mesmos produziram. Para ocupar os espaços públicos, os interessados participam de processo licitatório para ganhar a permissão de comercializar seus produtos no espaço da Ceasa por 15 anos. No caso paranaense, desde a década de 90, as centrais funcionam como uma empresa de economia mista (sociedade anônima), onde o governo do Paraná detém a maior parte das cotas. Na de Londrina, a Prefeitura possui 1% das ações. A Ceasa londrinense tem 96 empresas em 194 boxes e 1.478 produtores cadastrados, que vendem os produtos aos varejistas que, por sua vez, serão os responsáveis por vendê-los ao consumidor final em supermercados, mercearias, sacolões etc.

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Ceasa de Londrina comercializa, por ano, mais de 150 mil toneladas de hortifrutigranjeiros

Diante de expressivos números em termos econômicos, o Ceasa de Londrina também impressiona pelo valor humano: a circulação de clientes e funcionários é intensa todos os dias, com a movimentação de produtos de um lado para o outro em picapes, caminhões e pelo transporte mais característico das centrais: o carrinho de mão, carregado por funcionários com pilhas e pilhas de caixas que passam facilmente os 300kg. Um desafio e tanto, mas encarado com tranquilidade segundo os carregadores. “Hoje eu digo pra você que nem sinto. No começo era difícil, doía tudo. Carrego aqui há muitos anos, e quando você pega a manha, fica mais fácil. Hoje meus filhos também estão aqui, carregando. Eu conheci muita gente, e tudo que tenho eu devo a esse lugar”, relata o carregador de batatas Ademir Gouvêia.

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Os carrinhos de mão com pilhas e pilhas de caixas dominam o cenário do Ceasa

Entre produtores e boxistas, o envolvimento entre os membros da família no negócio também é marcante. Muitos continuaram a produzir e comercializar o que os avós, pais começaram há décadas. “Eu vendo batata doce e inhame aqui há 20 anos. É o espaço que encontramos para sobreviver e tirar o nosso sustento. Começamos aqui quando me casei, mas meu marido parou, então hoje venho com um dos meus filhos”, afirma a produtora Neusa Maria Borati. O atual cenário econômico também dificulta. “Esse ano foi um dos mais difíceis pra gente. Ainda mais agora no final do ano, com essa bagunça que virou [a economia], mas temos a esperança de melhora, porque nossa, Deus me livre! Do jeito que está, fica muito difícil”, completa Neusa.

Mais do que um espaço importantíssimo para colocar o alimento na mesa de milhões de paranaenses, o Ceasa de Londrina se constitui como um ambiente rico em histórias, como um pequeno mundo que muitas vezes passa despercebido às margens da BR-369. “A Ceasa é como uma pequena cidade, e como todas as cidades, tem suas vantagens e seus problemas. É um mundo completamente diferente, de pessoas que se gostam e que aqui, construíram boa parte das suas vidas e também de seus filhos e netos”, afirma o gerente Marcos Augusto.

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Marcos Augusto Pereira é o gerente da Ceasa de Londrina há dois anos e meio

Combate ao desperdício

Em todas as Ceasas, uma das maiores preocupações gira em torno do desperdício de alimentos não comercializados. Como muitos produtos hortifrutigranjeiros tem algo grau de perecividade, a comercialização emperra em alguns casos. “A maior parte dos produtos são transportados nas carrocerias dos caminhões, abertos, onde existe o risco de danos pela ação do tempo, do vento, ou danos físicos nas cascas, por exemplo. Isso dificulta o processo de venda. Mas o que não quer dizer que estes alimentos estejam impróprios para o consumo. Por isso, foi necessário encontrar uma solução para não ocorrer o desperdício daquilo que não foi vendido”, afirma o gerente Marcos Augusto. Na Ceasa de Londrina, a solução encontrada foi a criação do Banco de Alimentos, que recebe doações de parte dos produtos não comercializados por boxistas e produtores. Estas doações são repassadas ao Instituto do Câncer de Londrina, instituições religiosas e que atendem idosos, crianças, portadores de necessidades especiais, dependentes químicos, entre outros.

Fotos: Leonardo Cruz/Felipe Leonel Carneiro

Fonte: Thiago Ienco/Jornal Pretexto